Nos dias de hoje e com o atual cenário de nosso País e da Odontologia, é fundamental que o Dentista na condição de Gestor de seu consultório ou clínica e também de sua carreira tome cuidados básicos e essenciais para uma boa gestão de custos. Para isso, conhecer sobre gestão financeira em odontologia, saber conceituar e controlar os custos para prestação do serviço e ter um registro eficiente e detalhado das receitas são pilares deste processo. Para obtermos o custo e decidirmos pelo preço final de um procedimento devemos saber o que nos custou para executá-lo. Sem isso corre-se o risco de se cobrar um valor de forma empírica e ter como única e temerosa meta faturar o máximo possível, independentemente da alocação de recursos ou de tempo, pois é desta forma que muitas clínicas e consultórios ainda insistem em medirem seus desempenhos.
Um método de custeio é uma forma de aplicarmos uma gestão de custos nas empresas. Apenas como informação existem quatro principais métodos de custeio: custeio variável (custeio direto), custeio por absorção, custeio pleno e custeio baseado em atividades ABC (Activity Based Costing) (MAGLIORINI, 2011). Para consultórios e clínicas de odontologia o método de custeio variável é uma boa opção pela sua forma de classificar os custos e pelas poderosas informações gerenciais para tomada de decisões. O método de custeio variável divide os custos em custos fixos e custos variáveis. Para algumas contas básicas e para provocar o pensamento estratégico em odontologia, usarei como referência o controle mensal de um consultório.
Os custos fixos de um consultório existem independentemente da prestação do serviço ocorrer e são distribuídos por meio de critérios de rateio. Por exemplo, se seu consultório custe R$ 16.000,00 por mês para mantê-lo (incluindo seu salário!) e você atendeu 100 horas no consultório, o rateio dos R$ 16.000,00 pelas 100 horas sinaliza que você, para bancar seus custos fixos deveria faturar em média R$ 100,00 por hora trabalhada. Portanto, este método define que para um consultório funcionar, seus custos fixos já devam ser contabilizados e comprometidos em qualquer cenário de volume atendimentos ou de produção (MARTINS,2010). Que terrível seria se num determinado mês apenas uma hora fosse executada, seu cliente deveria pagar R$ 16.000,00 por ela. Os principais custos fixos em um consultório são os do salário/pró-labore do dono do negócio, os com seu RH, os custos prediais (aluguel, IPTU, condomínio, etc). Definindo estes três custos você terá um cenário muito próximo do real. Devem ser somados a estes custos, os custos de depreciação, custo de oportunidade de capital que dizem respeito ao montante investido para criar a empresa.
Os custos variáveis são aqueles que crescem de forma direta e proporcional ao aumento do nível de atividade (BORNIA 2010) ou seja, do número de procedimentos e consultas realizadas e devidamente faturadas pela empresa. Os principais custos variáveis são material de consumo odontológico, imposto sobre as vendas e em alguns casos serviços terceirizados por percentual de produção. No caso de material de consumo, dever ser contabilizado seu custo por procedimento e não o custo referente à dental. A conta da dental é controle de estoque, ou seja, quando sai do armário e entra na boca do cliente é que passa a ser o custo variável daquela consulta.
Quando montamos o preço de um procedimento devemos saber calcular o custo fixo da nossa hora trabalhada e somar a este valor os custos variáveis referentes ao procedimento executado. Por exemplo, numa consulta inicial de avaliação, você pode calcular que terá um custo fixo de R$ 77,29, um custo variável de material de consumo de R$ 4,10 e de mais R$ 14,36 de imposto. Somando estes valores sua hora clínica para realizar esta consulta odontológica inicial seria de R$95,75. Veja a tabela a seguir que simula esta composição de custos:
CENTRO ODONTOLÓGICO DENTES E NÚMEROSDESCRIÇÃO DO CUSTO DE HORA CLÍNICA DE UMA CONSULTA OONTOLÓGICA INICIAL | CUSTO |
CUSTO FIXO HORA | R$ 77,29 |
+ | |
CUSTO VARIÁVEL (MATERIAL DE CONSUMO) | R$ 4,10 |
+ | |
CUSTO VARIÁVEL (15% DE IMPOSTO DE RENDA) | R$ 14,36 |
= | |
VALOR DE REFERÊNCIA: PROCEDIMENTOS CONSULTA ODONTOLÓGUCA INICIAL | R$ 95,75 |
Os números acima foram obtidos a partir do método de custeio variável pertencem ao Estudo de Caso do Centro Odontológico Dentes e Números, uma clínica empírica localizada na cidade de Recife. A gestão de custos permitirá ao gestor tirar algumas conclusões importantes:
01 – R$ 95,75 é o custo mínimo para uma hora de atendimento na empresa e esta hora foi calculada levando-se em conta a ocupação de 100% da agenda;
02 – Procedimentos em que o componente custos fixos seja menor que R$ 77,29 por hora obrigarão a realização do procedimento em menor tempo e com intensa ocupação de agenda ou de procedimentos por consulta;
03 – Procedimentos em que o componente custos fixos seja maior que R$ 77,29 por hora permitirão a realização do procedimento em maior tempo e com menor dano em sua gestão financeira em função da ociosidade em sua agenda;
04 – O custo variável de R$ 4,10, é o sugeridos pela CBHPO (Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Odontológicos) e são específicos deste procedimento. Veja mais em http://cbhpo.com.br/. Cada procedimento deve ter seu custo variável calculado e personalizado;
05 – O imposto de renda sugerido neste caso é de 15% do preço final do serviço. Deve ser reservado em toda venda com emissão de nota ou recibo para o momento de acerto de contas tributário. Muitos profissionais pecam por não fazerem um planejamento tributário básico;
06 – O custo fixo de R$ 77,29 representa a maior fatia na composição do custo do procedimento. Portanto, uma ação de controle e redução neste custo terá muito mais impacto do que uma redução nas compras de material de consumo. Como foi citado acima o salário/pró-labore do dentista está incluído no cálculo destes R$ 77,29. É rotina em programas de Coaching Financeiro, tomar medidas de organização das finanças pessoais do dentista para ajustar momentos de desequilíbrio financeiro nos consultórios.
Estes são alguns números que devem constar de uma gestão de custos em odontologia. Fazer estes registros, controlá-los e gerenciá-los são poderosos para manter seu empreendimento financeiramente saudável e com melhor desempenho e produtividade. Poderá parecer trabalhoso no começo, mas tudo depende da sua disciplina e pensamento estratégico em odontologia como gestor. Você pode delegar o trabalho de registro e controle para um membro se sua equipe e diante destas informações tomar as melhores decisões para seu negócio crescer de forma sólida e sustentável, gastando menos com maior lucratividade. Por fim, como dica final, registre tudo que entra e de onde vem e tudo que sai e para onda vai. Afinal de contas, quem não sabe quanto custa não sabe quanto vai cobrar. E para isso o mercado não anda perdoando.
Fonte:
BORNIA, Antonio. C. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MEGLIORI, Evandir. Custos: análise e gestão. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012.
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Flávio Ribeiro
Coach e Consultor PenseFar Coaching Financeiro; Master Coach e Analista Comportamental pelo Instituto Brasileiro de Coaching com certificação pela European Coaching Association – ECA e Global Coaching Community – GCC; MBA Executivo Gerência de Saúde pela ISAE FGV; MBA Gestão de Serviços de Saúde pela UFF–RJ; Graduado em Odontologia; Mestre em Gestão e Economia da Saúde na UFPE.
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