Odontologia, economia e contabilidade

por | ago 21, 2014 | Contabilidade, Economia, Odontologia | 0 Comentários

Estamos atravessando um 2014 com carnaval, copa do mundo e eleições, e estes fatos certamente interferem na economia e nos nossos negócios. Fatos que passaram a percepção de um ano travado com expectativa inicial de PIB de 2,5% e, atualmente, segundo estimativas de especialistas, uma previsão de crescimento de 0,9%. Pensar que um dia a definição de PIB pudesse interferir em nossa atividade profissional é entender que, cada vez mais, devemos estar antenados aos rumos de nossa economia e a demanda cada vez maior de pensarmos estrategicamente como empresários, como gestores de nossa carreira ou de pensarmos de forma extrabucal.

Uma forma de “mudarmos os óculos” que usamos para enxergar nosso modelo de negócio e diferenciarmos a visão de lucro. Aqui cabe uma poderosa quebra de paradigma que sugere que a visão de desempenho de consultórios e clínicas seja analisada de forma anual e não mensal. Basicamente, como falo em meus cursos, resultado financeiro não é determinado pelo saldo da conta obtida num extrato bancário mensal. O Dentista deve avaliar o desempenho, definir custos pessoais e profissionais, definir o preço de sua hora clínica baseando-se num ciclo anual de planejamento. Aí sim, entendendo seu cenário atual, o Dentista poderá realizar algum movimento estratégico importante e assertivo. Em exemplo desta forma de pensar estrategicamente é entender que uma taxa anual de IPTU de R$ 600,00, mesmo que quitada em uma única parcela, representa uma necessidade mensal de R$ 50,00 (R$ 600,00 / 12 meses). Culturalmente e fruto de uma formação tecnicista e muito pouco empreendedora, o Dentista tem como conceito que lucro é o que sobra no final do mês e ele leva para casa. E se só sobrar apenas R$ 1,00?

Vamos então conceituar dois tipos de custos que podem ser muito úteis para uma visão mais estratégica e correta. Além dos conhecidos custos fixos e variáveis, já discutidos em vários textos, temos outros dois tipos de classificação de custos em um consultório: custos explícitos e custos implícitos. Esta classificação faz parte da disciplina de Microeconomia do Mestrado em Gestão e Economia da Saúde da UFPE, um poderoso desafio em minha carreira e que ampliou muito minha visão de negócio. Em seu capítulo de custos de produção, Mankiw define custos explícitos como aqueles que exigem desembolso de dinheiro por parte da empresa. Podemos citar despesas prediais (aluguel, IPTU, condomínio, energia, etc.) de RH (secretária, ASB, etc.), com insumos (material de consumo, laboratórios, etc.) além de outros. Na maioria dos consultórios, os custos explícitos são a única referência para análise de desempenho. Mas, tão importante ou mais que os custos explícitos, são os custos implícitos, ou seja, os custos que não exigem desembolso por parte da empresa, mas tem uma grande importância para tomada de decisões. O principal exemplo de custo implícito é o referente ao “salário”, “retirada” ou pró-labore do Dentista. Este valor deve ser usado para bancar as necessidades e desejos pessoais do profissional. Quanto você precisa para bancar 12 meses de sua vida? Saber esta resposta poderá fazer toda diferença na forma de se encarar o tempo no mundo do trabalho.

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A figura mostra como economistas e contadores enxergam e interpretam o lucro em uma empresa. Para economistas, o lucro é o resultado obtido depois de descontados da receita total, os custos explícitos e os custos implícitos. Já para contadores e para grande maioria dos Dentistas, apenas os custos explícitos são considerados. Isso ocorre pela facilidade de identificá-los. Vamos citar um exemplo clássico que é o aluguel do imóvel onde está um consultório. Muitos Dentistas são proprietários do imóvel onde trabalham e por conta disso, entendem ter a vantagem competitiva de não pagar aluguel. Esta teórica vantagem deve ser interpretada como um exemplo de custo implícito, ou seja, mesmo sem ter que desembolsar o valor do aluguel, o Dentista deve incluí-lo na sua planilha de custos para planejamento financeiro e precificação. Se o imóvel tem um valor mensal de mercado para locação de R$ 800,00, seu valor anual é de R$ 9.600,00 (R$ 800,00 X 12 meses). Se o Dentista trabalhar 1.920 horas por ano (20 dias mês X 08 horas dia X 12 meses). Atenção, neste exemplo o Dentista não tem férias nem feriados! Neste exemplo, temos R$ 9.600,00 que divididos por 1.920 horas determinam um custo de R$ 5,00 por hora somente para bancar o aluguel (isso ocupando todas as 1.920 horas!). Se o Dentista não fosse o proprietário do imóvel, ele teria que pagar o aluguel. Teríamos nesse caso o aluguel para o proprietário do imóvel como um custo explícito. Outros exemplos de custos explícitos podem ser o retorno do investimento e depreciação dos equipamentos, assuntos para próximas postagens.

A avaliação de desempenho do negócio deve ser feita baseada no conceito de lucro econômico, ou seja, uma forma mais completa e precisa de se conhecer o real cenário da empresa. Entender e conduzir o negócio desta forma permitirá ao profissional avaliar melhor seu modelo de negócio e poder definir estratégias baseadas em desempenho e melhor qualidade de vida.

Referência: Introdução a Economia – N. Gragory Mankiw – Universidade de Harvard

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Flávio Ribeiro

Coach e Consultor PenseFar Coaching Financeiro; Master Coach e Analista Comportamental pelo Instituto Brasileiro de Coaching com certificação pela European Coaching Association – ECA e Global Coaching Community – GCC; MBA Executivo Gerência de Saúde pela ISAE FGV; MBA Gestão de Serviços de Saúde pela UFF–RJ; Graduado em Odontologia; Mestre em Gestão e Economia da Saúde na UFPE.

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