Por Flavio Alves Ribeiro*
Dentistas são profissionais que têm diversas formas de ser remunerados, mas todos têm um ponto em comum. Cada um dentro de seu Modelo de Negócio tem que saber definir seu pró-labore (“pelo trabalho”, em latim) que conceitualmente é a remuneração de um sócio administrador (dono/gestor) de uma empresa (clínica/consultório). Aqui o termo pró-labore é representado pelo valor que o profissional deve receber para bancar sua vida pessoal sendo ou não dono de um negócio.
O início do texto fala de diversas formas de remuneração. Pois é isso mesmo, hoje o dentista pode ser dono/sócio de clínica, ter seu consultório próprio, ter uma franquia, trabalhar como executor por produtividade (por percentual, por serviço, por diária), atender clientes particulares ou de convênios, pode ser locador ou locatário de turnos, etc. Aqui temos na maioria dos casos receitas flutuantes, ou seja, que podem sofrer alterações positivas e negativas ao longo de um ano. Isso mesmo, um ano! Pense anualmente!
O dentista também pode atuar no serviço público, onde o salário mensal ao ser multiplicado por 13,3 (12 meses + 13º + 1/3 de férias – veja isso em seu contrato!!) permite uma previsão anual mais certeira. O dentista também atua na área acadêmica, quer seja com professor em uma graduação quer seja como gestor de cursos próprios ou em sociedade com outros colegas. E, por fim, claro, um cenário que ocorre muito em odontologia: a segmentação do tempo do dentista em mais de uma das atividades descritas acima. Isso justifica o uso do termo Modelo de Negócio.
Cada dentista tem próprio Modelo de Negócio, seu formato de divisão de sua Capacidade Instalada anual (carga horária anual – Pense anualmente!!) e deve saber avaliar o desempenho isolado em cada uma dos seus segmentos de receita. Esse modelo deve bancar os custos da vida pessoal – pró-labore – e os custos para bancarem sua atividade profissional. Um dentista dono de um consultório tem muito mais custos fixos e profissionais (manter o negócio anualmente) do que um dentista que atua no segmento público (sem custos fixos anuais). Aqui, o que importe é definirmos o custo da vida pessoal do dentista.
Voltamos então ao pró-labore, e uma pergunta importante deve ser feita:
– Dentista, você Ganha quanto você Custa?
Saber quanto se ganha e quanto se custa são pilares para se definição do pró-labore.
Então vamos a algumas dicas poderosas:
01 – Separe as finanças pessoais das finanças da empresa. Retiradas aleatórias são desastrosas para a gestão do negócio. Aqui o correto é definir um valor de pró-labore mensal e fazer uma única retirada da conta da empresa. A PenseFar sugere a retirada no primeiro dia útil de cada mês. Este é o custo mais importante de seu consultório. Faz sentido para você? Esta retirada mensal de pró-labore deve ser definida a partir de um planejamento de finanças pessoais anual. Pense anualmente!! Se necessário, se você for desorganizado nas finanças, tenha duas contas bancárias separadas, uma pessoal e outra da empresa.
02 – Registre seus gastos pessoais mensais (educação, prediais, combustível, mercado, escola, etc), sazonais (imposto de renda, seguro do carro, 13º da empregada, IPTU, manutenção do carro, previdência, etc) e calcule sua previsão de custo anual. Pense anualmente!! Pode parecer um desafio gigantesco, mas acredito que no papel ou numa planilha você não levará mais do que duas ou três horas para fazer uma das descobertas mais poderosas para seu planejamento de carreira: o quanto custa Sua vida pessoal por um ano. Pense anualmente!
03 – Registre números por estimativa, de forma aproximada e arredondada neste primeiro momento. Reúna todas as contas que você paga, prediais, saúde, educação, planejamento, empregados, alimentação, etc. Não lance uma conta de energia de R$117,93, lance R$120,00 por exemplo (na dúvida, arredonde par cima). O objetivo nestas 2 ou 3 horas de tarefa é saber se sua vida anual custa em torno de R$ 70.000, R$ 120.000, R$ 150,000, R$ 200.000, R$ 300.000….. e não se é R$ 103.759,39 ou R$ 105.134,56. Estimativa permite um resultado mais rápido e se bem feita representará um número muito próximo do real.
04 – Considere neste planejamento anual uma parte para investimentos e sua independência financeira. Um dia o trabalho deverá ser uma opção em sua carreira e não uma obrigação, aí sim você terá sua independência financeira. Existe uma conta que sugere guardar de 8 a 10% durante 40 anos de trabalho ou 15 a 20% durante 20 anos. Outra conta mais agressiva é de se guardar 30%. Entenda, o mais importante é a cultura do guardar uma parte. Estabeleça metas anuais. Se seu momento permitir, guarde mais! Tanha sinergia com o ganhar, o gastar e o guardar. Um percurso planejado de carreira passa pela acumulação, transição e independência financeira.
05 – O pró-labore para um dentista que atua exclusivamente como profissional liberal ajuda no cálculo da sua hora clínica. Por exemplo, no curso da PenseFar EaD sobre Gestão de custos em clínicas, simulamos uma vida pessoal anual estimada do dentista em R$130.000,00 e ele tem a capacidade instalada anual de 1.680 horas, ou seja, esta é a carga horária máxima anual de trabalho (210 dias úteis x 8 horas). Ao dividirmos o custo pessoal anual pelo tempo anual, temos que uma hora deste profissional, apenas para bancar sua vida pessoal, custa R$ 77,38 (R$130.000,00 / 1.680 horas).
06 – O pró-labore de um dentista que tem um emprego público é realizado por meio de seu salário. Para o Profissional de R$130.000,00 seu salário (pró-labore) deveria ser de R$ 9.775,00 (R$ 9.775,00 x 13,3 salários). Esta comparação é importante. Como num emprego o salário é definido e constante, saber se o que se ganhará por ano cobre ou não o planejamento anual é fantástico. Se não cobrir, o ajuste deve ser na vida pessoal.
07 – O pró-labore de um Dentista que mescla os dois segmentos deve ser compreendido separadamente para tomada de decisões. Vejam o exemplo: O Profissional de R$130.000,00 por ano trabalha todas as manhãs num emprego público e recebe R$4.000,00, ou seja, vezes 13,3 é igual a R$53.200,00 anuais. Neste caso, ele terá que faturar nas tardes (1.680 horas / 2 = 840 horas), em seu consultório, R$76.800,00 (R$130.000,00 menos R$ 53.2000,00). Concluindo, seu custo/hora no consultório para bancar seu pró-labore nos turnos da tarde será de R$ 91,42 (R$ 76.800,00 / 840 horas).
08 – O pró-labore de um dentista que mescla em sua clínica dois segmentos: clientes particulares e convênios. Vejam o exemplo: o profissional de R$130.000,00 por ano trabalha todas as manhãs com convênios e recebe R$36.000,00 anuais. Neste caso, ele terá que faturar nas tardes (1.680 horas / 2 = 840 horas), em seu consultório, R$94.000,00 (R$130.000,00 menos R$36.000,00). Concluindo, seu custo/hora no consultório para bancar seu pró-labore nos turnos da tarde será de R$111,90 (R$ 94.000,00 / 840 horas). Na carga horária de 840 horas referente aos convênios o ticket médio de receita é de R$42,86 (R$36.000,00 / 840 horas). R$42,86 de ticket médio de receita dos convênios é menor que R$ 77,38 (R$130.000,00 / 1.680 horas) que representa o custo hora para bancar a vida pessoal do dentista. Neste exemplo o segmento particular tem que compensar o desempenho do segmento de convênios. A segmentação de receitas ajuda na tomada de decisões em relação ao direcionamento de vendas. Faz sentido isso?
09 – Todas as contas acima foram simulações gerenciais criadas por estimativas e com o objetivo de estimular o pensamento estratégico baseado em gestão de custos em odontologia. Custos variáveis, como tributários (impostos), taxas de cartões e materiais de consumo foram considerados como parte desta conta, com a intenção positiva de facilitar a compreensão do conceito pró-labore. Um levantamento mais preciso, com suporte de planilhas e separando custos fixos de variáveis torna o processo muito mais preciso para se definir o custo/hora do dentista e de um serviço prestado em seu Modelo de Negócio.
10 – Dentista, calcule e descubra qual é o R$130.000,00 em sua vida pessoal, calcule e descubra qual é o 1.680 horas em sua capacidade instalada, se tiver seu negócio próprio calcule e descubra qual é o custo anual de seu negócio. O que você faria se soubesse qual é seu R$119,05?
“Quem não sabe quanto custa, não entende quanto cobra.”
“Quem não entende quanto cobra, não mede resultados.”
“Quem não mede resultados, segue sem rumo na carreira.”
Que tal planejar seus custos pessoais, seu pró-labore para 2018? O que você está fazendo hoje para o seu amanhã?
Por fim, uma de Peter Drucker muito valiosa na visão da PenseFar:
“O Planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões no presente“
*Flavio Alves Ribeiro é Cirurgião-dentista pela Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo. Mestre em Gestão e Economia na Saúde na Universidade Federal de Pernambuco. Coach pelo Instituto Brasileiro de Coaching. MBA em Gestão de Serviços de Saúde pela Universidade Federal Fluminense. MBA Executivo Gerência de Saúde pela FGV. Tutor do curso PenseFar EaD Gestão de custos e Modelos de Negócios em Clínicas
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